Uma das primeiras
lições num curso de jornalismo é que entrevistador não deve falar muito. Deve
ser direto nas perguntas e buscar ser o mais objetivo possível. Não significa
que deva ser leniente e bondoso com o entrevistado. Pode interrompê-lo,
cortá-lo etc, mas não deve fazer discursos.
Willian Bonner não é um
jornalista habituado a fazer entrevistas. É um apresentador. E mais do que
nunca sua falta de qualidade para realizar um dos fundamentos básicos da
atividade ficou evidente na noite de hoje. Em vários momentos ele foi
absolutamente circular nas suas falas e até pouco educado. Lembrou Henry
Maksoud nos tempos em que fazia um programa na Gazeta, cujo nome era Henry
Maksoud e Você. Mas que era apelidado de Henry Maksoud e Eu. Porque só o
entrevistador falava.
Isso compromete não só
o desempenho do entrevistado, como da entrevista. Dilma não foi mal no Jornal
Nacional. Foi razoável e dificilmente ganhou ou perdeu algo. Saiu, como se diz
no popular, no zero a zero. Mas ficou evidente em alguns momentos que foi
prejudicada não pela falta de condições de responder, mas pela confusão criada
pelo entrevistador que fazia um monte de questões num longo tempo e queria
respostas rápidas.
Dilma, por exemplo,
respondeu que não falaria sobre o julgamento do Supremo. Bonner começou dizendo
que “houve corrupção em várias áreas do governo” e citou vários casos. E as
duas CPIs da Petrobras. Dilma respondeu que “os governos que mais estruturaram
os mecanismos de combate a corrupção” foram os dela e o de Lula. Que a PF
ganhou autonomia, que há relação respeitosa com o MP, que nenhum Procurador
Geral da República foi chamado de engavetador etc. A resposta estava dada, mas
aí Bonner apelou para o mensalão e soltou uma frase de efeito no meio de um
monte de considerações. “Seu partido teve um grupo de elite comprovadamente
corrupto”. Dilma respondeu que não faria julgamento de uma decisão do Supremo
Tribunal. Neste momento o entrevistador só faltou pular da mesa e exigir que
ela respondesse o que lhe parecia mais adequado.
Por Renato Rovai
Foram aproximadamente
dois minutos da entrevista nesta querela. E ali havia clara intenção do
apresentador em fazer discurso, não de fazer perguntas.
Nas outras questões,
Dilma também foi apertada. Como, aliás, outros candidatos também foram. E se
saiu bem. Explicou que na saúde ainda há muitos problemas a enfrentar, mas que
acha que já houve melhoras significativas. “Contratamos mais 14.562 médicos e
ampliamos a nossa de atendimento para mais de 50 milhões de brasileiros”,
afirmou. E quando Bonner, tentou interrompê-la logo no começo de uma resposta
falando que precisavam falar de economia, a presidenta deu-lhe uma resposta
bolada: “Tenho maior prazer de falar da economia, Bonner”.
E foi muito bem ao
falar de como o Brasil está enfrentando a crise econômica. “Não desempregando,
não arrochando salários, não aumentando impostos. Qual era o padrão anterior?”
Esse foi certamente seu melhor momento. Bonner falou de inflação alta e a
presidenta teve de lhe informar o que todos os jornais têm registrado, que a
inflação dos últimos meses é de 0%.
Ao final, a presidenta
dialogou com a frase dita por Eduardo Campos e disse: “eu acredito no Brasil”.
Foi uma entrevista meio
atarracada e Dilma sai do mesmo tamanho. Sem se ferir. O que para quem está em
primeiro lugar, recuperando a imagem do seu governo e que terá o maior tempo de
TV é uma boa notícia.
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