segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A Lógica do Contágio


O que as novas mobilizações pelo mundo podem nos ensinar?
Os movimentos sociais que sacudiram o espaço público em vários pontos do planeta, da Tunísia a Portugal, ou do Brasil aos Estados Unidos, não estiveram ausentes do 2º Congresso Karl Marx. O sociólogo José Soeiro, no Painel Hegemonia e Movimento Social, analisou o ciclo de mobilizações iniciado em 2010 e tentou apresentar alguns dos seus traços mais característicos.
“O que podem ensinar-nos as novas mobilizações?”, perguntou o sociólogo em sua apresentação. Segundo ele, muitas coisas. A primeira é que não vivemos acontecimentos desligados, mas imersos numa lógica comum: de difusão geográfico do conflito, de criação de novas organizações e ideologias, de protagonismo da juventude e de alargamento do repertório de ações, com a ocupação transgressora do espaço público. “Há uma lógica de contágio pela difusão nas redes sociais, particularmente a Internet”, disse ele.
As reivindicações e denúncias apresentadas pelas mobilizações pós-2010 também são parecidas: repúdio ao sistema econômico e exigência de uma verdadeira democracia (a democracia real); oposição a diferentes aspetos do capitalismo, como a privatização dos bens sociais, a mercantilização da educação, da saúde e do transporte e a erosão da democracia.


A importância do acontecimento

Este novo ciclo de mobilizações recolocou, de acordo com Soeiro, as questões materiais no centro da luta política e da reflexão sociológica, de onde teriam sido desviadas por teorias várias a apontar para uma fase “imaterial” do capitalismo.
Os temas do trabalho, do desemprego e da precarização das relações laborais retomam o seu protagonismo e “obrigam a recuperar a noção de exploração”.   A multidão que vai às ruas tenta “criar uma voz própria, que não recorra às formas tradicionais de representação”, razão pela qual surgem novos movimentos sociais e formas de organização horizontais e “assembleiárias”.
A lembrar Walter Benjamim, Soeiro apontou outra característica do novo ciclo: “o momento em que se desencadeia a revolta está no domínio do imprevisível”. Acontecimentos inesperados podem detonar as mobilizações, como foi o caso do jovem que se imolou na Tunísia ou os 0,20 centavos no Brasil. “Não devemos ver a política como a espera teológica pela revolução”, disse.

O que fazer

Apesar do fascínio provocado pelas massas nas ruas, Soeiro alerta para que não nos “contentemos com a estética do acontecimento e a celebração da horda ou de momentos sublimes”, numa referência ao filósofo esloveno Slavoj %u07Di%u07Eek. Em Nova Iorque, numa visita aos manifestantes do movimento Occupy Wall Street em 2011, ele teria dito: “Não se apaixonem por vocês próprios”. “Não nos cabe apenas a criação desses momentos de exceção”, acrescentou Soeiro, “mas é preciso ter uma alternativa política e estratégica.”

Reconhecendo que não possui essa alternativa, aponta algumas pistas, como a necessária articulação entre os novos e os “velhos” movimentos; a construção de uma contra-cultura de massas; o resgate, a exemplo do que já se faz na Grécia, da tradição mutualista... Por fim, unificar as lutas para que seja possível atacar com mais eficácia os mecanismos de exploração, como a dívida pública, o álibi de uma austeridade que corta salários e aumenta a taxa de lucro.

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