O que as novas
mobilizações pelo mundo podem nos ensinar?
Os
movimentos sociais que sacudiram o espaço público em vários pontos do planeta,
da Tunísia a Portugal, ou do Brasil aos Estados Unidos, não estiveram ausentes
do 2º Congresso Karl Marx. O sociólogo José Soeiro, no Painel Hegemonia e
Movimento Social, analisou o ciclo de mobilizações iniciado em 2010 e tentou
apresentar alguns dos seus traços mais característicos.
“O
que podem ensinar-nos as novas mobilizações?”, perguntou o sociólogo em sua
apresentação. Segundo ele, muitas coisas. A primeira é que não vivemos
acontecimentos desligados, mas imersos numa lógica comum: de difusão geográfico
do conflito, de criação de novas organizações e ideologias, de protagonismo da
juventude e de alargamento do repertório de ações, com a ocupação transgressora
do espaço público. “Há uma lógica de contágio pela difusão nas redes sociais,
particularmente a Internet”, disse ele.
As
reivindicações e denúncias apresentadas pelas mobilizações pós-2010 também são
parecidas: repúdio ao sistema econômico e exigência de uma verdadeira
democracia (a democracia real); oposição a diferentes aspetos do capitalismo,
como a privatização dos bens sociais, a mercantilização da educação, da saúde e
do transporte e a erosão da democracia.
A
importância do acontecimento
Este
novo ciclo de mobilizações recolocou, de acordo com Soeiro, as questões
materiais no centro da luta política e da reflexão sociológica, de onde teriam
sido desviadas por teorias várias a apontar para uma fase “imaterial” do
capitalismo.
Os
temas do trabalho, do desemprego e da precarização das relações laborais
retomam o seu protagonismo e “obrigam a recuperar a noção de exploração”. A multidão que vai às ruas tenta “criar uma
voz própria, que não recorra às formas tradicionais de representação”, razão
pela qual surgem novos movimentos sociais e formas de organização horizontais e
“assembleiárias”.
A
lembrar Walter Benjamim, Soeiro apontou outra característica do novo ciclo: “o
momento em que se desencadeia a revolta está no domínio do imprevisível”.
Acontecimentos inesperados podem detonar as mobilizações, como foi o caso do
jovem que se imolou na Tunísia ou os 0,20 centavos no Brasil. “Não devemos ver
a política como a espera teológica pela revolução”, disse.
O
que fazer
Apesar
do fascínio provocado pelas massas nas ruas, Soeiro alerta para que não nos
“contentemos com a estética do acontecimento e a celebração da horda ou de momentos
sublimes”, numa referência ao filósofo esloveno Slavoj %u07Di%u07Eek. Em Nova
Iorque, numa visita aos manifestantes do movimento Occupy Wall Street em 2011,
ele teria dito: “Não se apaixonem por vocês próprios”. “Não nos cabe apenas a
criação desses momentos de exceção”, acrescentou Soeiro, “mas é preciso ter uma
alternativa política e estratégica.”
Reconhecendo
que não possui essa alternativa, aponta algumas pistas, como a necessária
articulação entre os novos e os “velhos” movimentos; a construção de uma
contra-cultura de massas; o resgate, a exemplo do que já se faz na Grécia, da
tradição mutualista... Por fim, unificar as lutas para que seja possível atacar
com mais eficácia os mecanismos de exploração, como a dívida pública, o álibi
de uma austeridade que corta salários e aumenta a taxa de lucro.
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