“A
violência se liberou de qualquer fundamento ideológico” Hans M. Enzensberger
Ao
mesmo tempo em que a grande mídia e seus pseudo-especialistas tentam pautar uma
discussão sobre o encarceramento de jovens e adolescentes em cadeias comuns e a
redução da idade mínima para serem julgados como criminosos adultos, o país
passa por um período de sangrenta guerra que vem, ilegitimamente, exterminando
sua juventude.
A
violência urbana, enquanto representação simbólica da realidade em que estamos
imersos, hoje se encontra num constante processo de assimilação como prática
comum nas relações sociais. Ao mesmo tempo, a mídia apresenta a violência como
espetáculo e como verdadeira paranoia, como se todos os ambientes, se todas as
cidades, se todos os espaços, principalmente públicos, fossem espaços
violentos. Percebe-se aí a tentativa de
uma construção hegemônica de estabelecer a ordem social como forma de vida
constituída pelo uso da força como princípio organizador das relações sociais.
Todo e qualquer questionamento à “ordem social” hegemonicamente estabelecido
deve ser combatido com uso da força.
Neste jogo de “cabo de guerra”, a face
mais visível e, ao mesmo tempo, mais vulnerável é a juventude brasileira. Nesta conjuntura, onde estão inseridos os
aparelhos estatais de controle social? Onde se insere o debate pela
implementação e efetivação de políticas públicas? Há que se considerar uma
verdadeira reorganização das agencias da ordem estatal, a relação destas com a
sociedade civil e a formulação e implementação de políticas mais democráticas
de segurança pública.
Escrito por:
Luiz Fernando Rodrigues, secretário de Juventude da CUT-PR
Se
alastram pelo país iniciativas de leis municipais que privam os jovens e
adolescentes do uso do espaço público. Chamada de “toque de recolher”, a lei
limita os adolescentes e jovens de ocuparem os espaços públicos. Mais de 90%
dos casos de violência contra jovens e adolescentes são cometidos em casa,
muitas vezes protagonizados pelos próprios pais ou parentes próprios. Ou seja,
no ambiente privado, própria casa, é que a maioria dos crimes acontecem.
Porque, então,o espaço público deve ter restrição de uso? A lei do toque de
recolher torna-se, então, um atestado de incompetência do estado, através de
seus gestores, que afirmam não ser capazes de tornar seguros os espaços
públicos. É a privatização destes espaços.
Já
o índice de homicídios na adolescência e juventude vem aumentando a cada ano.
Ousamos dizer que é um verdadeiro extermínio da juventude brasileira. No
Brasil, a possibilidade de um jovem ser
vítima de um homicídio é em média 30 vezes maior que na Europa e 70 vezes maior
que na Grécia, Hungria e Inglaterra. Os
homicídios, no Brasil, têm idade, raça, classe social e gênero: são jovens,
negros, pobres e homens. No período de
1996 a 2006, a taxa de homicídio entre a população em geral cresceu 20%. Na
população jovem este índice foi de 31%. Se considerarmos os jovens negros, este
índice é ainda maior.
Segundo
o relatório do IHA (índice de homicídios na adolescência), pesquisa realizada
pela UNICEF, 45% das mortes de adolescentes e jovens na faixa etária de 12 a 18
anos são por homicídio, ou seja, quase metade da juventude que está morrendo é
vítima da violência direta, morte por arma de fogo. Comparado a 83 países o país ocupa o 5º lugar
na taxa de homicídios juvenis.
Neste
contexto em que a juventude vem sendo, verdadeiramente, exterminada, um outro
movimento toma força. O debate da redução da maioridade penal. Um dos
argumentos é a impunidade do ECA (Estatuto da Criança e Adolescente) que prevê,
no máximo, três anos de recolhimento em centros de sócio-educação e outras
medidas de acompanhamento.
A
maioria dos condenados por homicídio qualificado pelo STJ (Superior Tribunal de
Justiça) recebe como pena cerca de 12 anos de condenação. Pela legislação
atual, se o condenado tiver bom comportamento poderá cumprir a pena em regime
aberto após o 2º ano de prisão. Ou seja, o adulto condenado por homicídio
qualificado cumpre uma pena menor que o adolescente. Outro dado importante diz
respeito ao índice de crimes cometidos por jovens e adolescentes no país: 1,7%.
O estado onde este índice é mais alarmante é o de São Paulo, aonde o índice não
chega a 4%.
Há
que se estabelecer um debate aprofundado acerca do tema, com a análise destes e
de outros dados como, por exemplo, o volume de recursos que o estado vem
investindo no que diz respeito a políticas públicas para a juventude. Se há falta de investimento em políticas
públicas para que estes jovens e adolescentes não venham cometer crimes, quem é
o verdadeiro vilão da história? Vamos combater as causas da violência ou
continuar punindo os verdadeiros inocentes no processo?
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