Reduzir a maioridade penal é reconhecer a incapacidade do Estado brasileiro de garantir oportunidades e atendimento adequado à juventude. Para o advogado Ariel de Castro Alves, especialista em políticas de segurança pública e ex-integrante do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), “seria um atestado de falência do sistema de proteção social do país”.
O
debate sobre o tema voltou à tona nos últimos dias, após o assassinato do
estudante Victor Hugo Deppman, 19 anos, durante um assalto em frente a sua casa
no bairro de Belém, zona leste de São Paulo. O agressor era um adolescente de
17 anos que, dias depois, completou 18. Com isso, ele cumprirá medida
socioeducativa, pois o crime foi cometido quando ainda era menor.
Além
disso, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, veio a Brasília na semana
passada para defender alterações no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
e no Código Penal com o objetivo de tentar coibir a participação de
adolescentes em crimes. Uma das propostas é ampliar para até oito anos o
período de internação do menor em conflito com a lei.
Escrito Por: Thais
Leitão
Repórter
da Agência Brasil
Para
Ariel de Castro, membro do Movimento Nacional de Direitos Humanos, defender a
diminuição da maioridade penal “no calor da emoção” não garante o combate às
verdadeiras causas da violência no país. Para ele, a certeza da punição é o que
inibe o criminoso, e não o tamanho da pena.
Castro
alerta que uma das consequências da redução da maioridade penal seria o aumento
dos crimes e da violência. “É uma medida ilusória que contribui para que
tenhamos criminosos profissionais cada vez em idade mais precoce, formados nas
cadeias, dentro de um sistema prisional arcaico e falido”, disse.
“No
Brasil existe a certeza da impunidade, já que apenas 8% dos homicídios são
esclarecidos. Precisamos de reestruturação das polícias brasileiras e melhoria
na atuação e estruturação do Judiciário e não de medidas que condenem o futuro
do Brasil à cadeia”, completou.
O
especialista também enfatizou que o índice de reincidência no sistema prisional
brasileiro, conforme dados oficiais do Ministério da Justiça, chega a 60%, o
que, em sua opinião, indica “claramente” que se trata de um sistema incapaz de
resolver a situação. Já no sistema de adolescentes, por mais crítico que seja,
estima-se a reincidência em 30%.
“Se
colocar adultos nas cadeias de um sistema falido não resolveu o problema da
violência, e essas pessoas voltam a cometer crimes após ficarem livres, por que
achamos que prender cada vez mais cedo será eficiente?”, questionou.
Para
o diretor adjunto da organização não governamental (ONG) Conectas, que trabalha
pela efetivação dos direitos humanos, Marcos Fuchs, modificar a legislação
atual para colocar jovens na cadeia reforça a ideia do “encarceramento em
massa” o que, em sua avaliação, não é eficiente. Ele ressalta que os jovens
brasileiros figuram mais entre as vítimas da violência do que entre os autores
de crimes graves.
“Os
números da Fundação Casa, em São Paulo, mostram que latrocínio e homicídio
representam, cada um, menos de 1% dos casos de internação de jovens para
cumprimento de medida socioeducativa, sendo a maioria [dos casos de internação]
por roubo e tráfico de drogas”, destacou.
“Além
disso, o último Mapa da Violência indica que a questão a ser encarada do ponto
de vista da política pública é a mortalidade de jovens, sobretudo, dos jovens
negros, e não a autoria de crimes graves por jovens”, completou.
Segundo
o último Mapa da Violência, de cada três mortos por arma de fogo, dois estão na
faixa dos 15 a 29 anos. De acordo com a publicação, feita pelo Centro
Brasileiro de Estudos Latino-Americanos e pela Faculdade Latino-Americana de
Ciências Sociais, os jovens representam 67,1% das vítimas de armas de fogo no
país.
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