segunda-feira, 23 de maio de 2011

Flagrante de superlotação e doentes nos corredores mostram: HGE ainda pede socorro.

Odilon Rios

Do Repórter Alagoas

Uma semana depois do RA flagrar formigas devorando pacientes, mortos ao lado de doentes em recuperação e goteiras no maior hospital público de Alagoas- o Hospital Geral do Estado- a reportagem voltou a flagrar doentes recebendo o pior tratamento do poder público.

Imagine um parente seu doente, precisando de ajuda e esperando por horas ou dias nos corredores de um hospital ou- o pior- apertados em cadeiras de espera, na tentativa de conseguir um leito no HGE.

O RA voltou a percorrer neste domingo, 22 de maio, os corredores do HGE. As promessas de melhoria do serviço público- garantidas pela Secretaria Estadual de Saúde- não aconteceram. 

A imagem de um idoso despido, no corredor, coberto apenas por uma fralda mostra que a população ainda não conta com um serviço de saúde confiável ou decente.

Ao contrário disso: a partir de hoje, os enfermeiros do HGE suspendem as atividades e deixam apenas 30% dos serviços funcionando. Eles não aguentam mais reclamar do caos, vivido todos os dias.

"Ainda dizem para a gente que este hospital é modelo, algo da Suíça. Conversa fiada", disse um funcionário.

Câmeras espalhadas pelo hospital também servem para evitar que os funcionários filmem situações degradantes- e mostrem tudo para a imprensa, ao MInistério Público Estadual ou a Defensoria Pública.

Por isso, o RA entrou com uma câmera escondida. Uma mulher está ao lado de um senhor, provavelmente seu pai. É tanta gente para atender no HGE que ela improvisa um afago no doente desacordado.

Mais adiante, nos corredores, uma idosa dorme, um homem está no leito sem lençol, uma outra idosa acompanha um jovem. Sem espaço, ela dorme apoiada no braço, em cima do leito, ao lado do doente.

"Veja isso aqui, como é que pode isso?", pergunta alguém.

Uma fralda mal colocada é o único cobertor de um senhor que espera atendimento- pelo visto sozinho- nos corredores sempre frios do HGE. Está desacordado.

Outro idoso se abana em uma sala-dividindo espaço com jovens tomando soro, sentados. Ele improvisa um abano, uma mulher fica de pé para que a cadeira de espera vire uma "cama" ao doente mais velho.

Na manhã desta segunda-feira, os enfermeiros suspendem o atendimento. Os médicos continuam a trabalhar. O movimento é liderado pelo Sindicato da Previdência, do Trabalho e da Saúde (Sindiprev). As péssimas condições de trabalho incluem falta de lençol e empregados doentes- pelo estresse. Na campanha, o governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) garantiu que as condições do HGE melhorariam

No dia 18 de maio, em resposta ao Repórter Alagoas, a Secretaria de Estado da Saúde disse que o HGE "é um hospital de referência no Sistema Único de Saúde (SUS) para tratar os casos de urgência e emergência, no entanto, se mantém de portas abertas para prestar assistência a todo e qualquer paciente".

Apesar de na semana passada a reportagem ter flagrado doentes no chão, a secretaria nega a situação no hospital público. "Tendo número de leitos limitado, fatalmente ocorrerá atendimento de pacientes em macas, mas não há pacientes no chão".

As imagens da reportagem mostram os pacientes à espera de atendimento- e funcionários tentando resolver como podem- mas a Sesau "garante que, em nenhum momento, pacientes deixam de ser assistidos pelos profissionais de plantão."

A imagem mostrada aponta pacientes sem lençóis. A Sesau nega: "A troca de lençóis ocorre em horário determinado, mas pela demanda acima da capacidade instalada, pode, pontualmente, ser atrasada. Temos 28 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) – adulto, pediátrico e na Unidade de Dor Torácica (UDT) - além de todos os equipamentos e pessoal adequado para o devido atendimento que é oferecido pelo hospital".

Também não existe sujeira no hospital- apesar do doente devorado por formigas- flagrado na semana passada: "A equipe de limpeza lava, nos três turnos, o piso de todas as dependências do hospital, a exemplo dos leitos, corredores, alas, centro cirúrgico, UTI, recepção e consultórios".

Há três anos, as obras de reforma e ampliação do HGE- a extensão da antiga Unidade de Emergência- esperam ficar prontas. A Secretaria garante uma data: "As obras de ampliação e reforma da unidade hospitalar estão em pleno funcionamento, com previsão de entrega ainda para o primeiro semestre deste ano"

E nega, na nota, ter sido procurada pelo RA, apesar de na semana passada o contato ter sido com um dos diretores da secretaria, Vanilo Soares: "A Secretaria de Saúde informa que o HGE está de portas abertas para visitas e discussão das dificuldades e avanços do hospital. Reitera ainda que, a direção da unidade em nenhum momento foi procurada pelo repórter em questão para prestar os esclarecimentos necessários".

"Outro dia não vi uma formiga não descendo, mas barata. Estava na mangueira do soro do paciente, saindo da parede. O ar condicionado é sujo, não tem limpeza", diz uma funcionária.

O maior hospital público de Alagoas ainda pede socorro. E o socorro demora a chegar.

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