O CANTO DE UM NOVO MUNDO
O mundo contemporâneo nos impede, muitas vezes, de refletir, de ponderar e de agir conscientemente. Ficamos concentrados em problemas individuais, como a busca por emprego e formação, e deixamos de lado o potencial que temos de transformar a ordem e a realidade cotidiana.
Nas palavras de Che Guevara, “ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição biológica”. Somos questionadores e transformadores, com uma significativa diversidade, por isso os espaços de discussão e organização, como o Festival, são importantes para construirmos um horizonte comum, um sonho coletivo. Para ser coletivo, João Cabral de Melo Neto nos explica:
“Um galo sozinho não tece a manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro: de outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzam
os fios de sol de seus gritos de galo
para que a manhã, desde uma tela tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão”.
(Tecendo a Manhã – João Cabral de Melo Neto)
Com esse pensamento começamos a pensar o tema do II Festival. Não por acaso este evento se tornou o nosso lugar de encontro. Nosso canto. Assim surge o tema “O Canto de um novo mundo”.
A palavra “canto” significa música, expressão de vontades, anseios, ideias. Mas também pode lembrar canto significando lugar, espaço, momento. O Canto onde é possível cantar, um lugar que ao invés de ter silêncio dos dias atuais, do capital que espolia os povos e coíbe a nossa capacidade inventiva, prevalecerá o canto das juventudes.
E isso está casado com o debate de construção e consolidação dos direitos das juventudes. O Festival é para ser um ambiente de criação, reflexão, experimentação e produção coletiva. Um lugar capaz de nos mobilizar para a construção de alternativas baseadas em valores democráticos, solidários e multiplicadores de novas formas de vida econômica e social eco-sustentável.
Por isso, nos identificamos com os galos, que gritam juntos. E nós, com todas as forças que vêm das nossas utopias, cantamos. Cantamos porque o grito só não basta:
“cantamos porque o grito só não basta
e já não basta o pranto nem a raiva
cantamos porque cremos nessa gente
e porque venceremos a derrota
cantamos porque o sol nos reconhece
e porque o campo cheira a primavera
e porque nesse talo e lá no fruto
cada pergunta tem a sua resposta”
(Porque Cantamos – Mário Benedetti).
Nenhum comentário:
Postar um comentário