Durante a
semana da pátria (1 a 7 de setembro), urnas estarão espalhadas pelo Brasil
coletando votos para o Plebiscito Popular por uma Assembleia Constituinte. Com
uma única pergunta, o plebiscito quer saber se a população brasileira é a favor
da convocação de uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político. Uma
constituinte, cujos representantes serão exclusivamente eleitos para este fim.
O plebiscito
faz parte da ação concreta e articulada da sociedade civil organizada diante de
um quadro pós-manifestações de 2013, quando melhorias em diversas áreas
(transporte, saúde, educação, etc.) foram objeto de reivindicação nas ruas de
todo o país. Passado aquele momento de manifestações populares massivas,
algumas reivindicações foram atendidas, em certa medida, pelo poder público,
principalmente no que tange à pauta que unificou a maioria dos grupos que foram
às ruas: o preço da tarifa de ônibus. No entanto, a falta de mecanismos de
participação efetiva da sociedade nas principais decisões do país e o
sentimento de não-representação diante da estrutura do sistema político
permanecem presentes.
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Vote: http://bit.ly/VoteConstituinte |
É por esta
análise que movimentos sociais, entidades sindicais, organizações populares,
partidos políticos de esquerda, coletivos e associações identificaram a reforma
do sistema político como uma pauta organizativa desta insatisfação popular.
Reforma que se baseia em três questões fundamentais: acabar com a influência
determinante do poder econômico no processo eleitoral, pondo fim ao
financiamento empresarial das campanhas eleitorais e da atividade política em
geral; ampliar os instrumentos, mecanismos e espaços de controle social e de
participação direta da população; e garantir mecanismos de participação de
mulheres, negros/as, indígenas, jovens, LGBTs e setores populares no sistema
político.
Por Mayrá Lima e Paulo Victor, são integrantes do Intervozes
Mas engana-se
quem acredita que o “não me representa” tão presente nas manifestações era
direcionado exclusivamente para o sistema político. Os meios de comunicação
também foram colocados em xeque durante os protestos de junho e julho de 2013.
Após o comportamento da grande mídia diante dos atos de rua, marcado pela manipulação
das informações veiculadas, a Rede Globo tornou-se também um alvo da
insatisfação popular. Por isso, não era raro ouvir os manifestantes gritando
palavras de ordem como “a verdade é dura, a Rede Globo apoiou a Ditadura”, ou
“o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”.
Neste sentido,
as manifestações de junho e julho de 2013 abriram uma oportunidade de
massificarmos de forma mais contundente a pauta da democratização da
comunicação, em articulação com a reforma do sistema político.
O diálogo
entre as duas pautas não encerra por aí. O oligopólio midiático é parte do que
se resume como poder econômico brasileiro. Só a família Marinho, com as
organizações Globo, somam a fortuna de US$ 28,9 bilhões, configurando-se como a
família mais rica do Brasil, segundo dados recentes da revista Forbes. A mesma
família – assim como outras famílias detentoras de concessões de rádio e
televisão – tem forte influência nas discussões e decisões do Congresso
Nacional. Congresso que, é preciso ressaltar, tem em sua composição uma
presença ativa de políticos concessionários de veículos de radiodifusão,
ferindo inclusive a Constituição Federal de 1988, que são usados para benefício
próprio, o que também contribui para gerar privilégios, desigualdades e
distorções no sistema político.
Por esses
motivos, a democratização das comunicações, especialmente a partir da luta por
um novo marco regulatório para o setor (tendo como estratégia a coleta de
assinaturas para o Projeto de Lei de Iniciativa Popular) e a reforma do sistema
político, por meio da realização de uma Constituinte Exclusiva e Soberana,
apresentam-se como duas demandas essenciais no processo de radicalização da
democracia brasileira.
A organização
do Plebiscito Popular já possui esta compreensão de que a democratização dos
meios de comunicação é pauta fundamental. A campanha Para Expressar a
Liberdade, que busca recolher mais de um milhão de assinaturas em apoio ao
Projeto de Lei da Mídia Democrática,
também faz parte da mobilização por reforma política. Nesse sentido, em
muitas urnas, também será possível manifestar apoio a esse projeto.
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